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Escrevi isso em 2022, sobre a pandemia de 2020:

> Em 2020, quando começou a pandemia, ouvi o dito de que era preciso não levar o rompante das pessoas tão a sério, pois as coisas não estão normais e, mais ainda, as pessoas sequer se comunicavam por meios corriqueiros.
> Comecei a perceber isso pelo Wzap, pelos mails e pelo Google Meet: eram fábricas de mal entendidos.
> Mas parece que, 2 anos depois, as pessoas naturalizaram isso. Elas tomam aquele zapzap ou mail atravessado e aquele avatar movente e comentário com um lag na conexão como se tivessem o mesmo estatuto da fala e da presença em carne e osso. E mais ainda: tiram conclusões sobre as relações reais com o outro por meio disso.
> Essa confusão entre o meio e o emissor deve ser um assunto e tanto, por exemplo, para quem faz psicoterapia online (tema que há 10 anos era considerado impossível, inclusive por colocar questões como essas).

Uma consequência muito séria disso que tenho visto é que os adolescentes não estão conseguindo notar a diferença entre certo desempenho que eles realizam num momento e o que eles são. É como se todo mundo fosse inteiro, aqui e agora, e não tivéssemos momentos de força e fraqueza, ou de aprendizado por ex. Aí ttudo precisa ser resplandecente, todo mundo tem que ser o mais bonito e o melhor, sem frustrações.

Só que somos finitos, temos defeitos, aprendemos, e no fundo estamos forjando uma sociedade de derrotados e frustrados, pois todo mundo percebe em algum momento que não se iguala a um avatar.

E o que as pessoas fazem então? Reforçam o sistema de aparências. Até os exageros depressivos e as ameaças de suicídio fazem parte disso.

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