Conselho do tio pra quem tá começando na vida acadêmica: O Stephen King escreveu, e eu concordo, que nada que um autor possa dizer sobre a própria obra tem qualquer valor, e é por isso que não existem coletâneas dos 100 Maiores Prefácios da Literatura Ocidental.
Eu quase larguei o doutorado no último ano porque achava minha tese curta, superficial e fraca, e não conseguia fazer mais que aquilo. Só não desisti porque meu orientador me disse que tese não se termina, tese se entrega.
E a tese foi aprovada. E no ano seguinte ganhou o prêmio Unesp de melhores teses. E eu ainda acho que eles premiaram uma tese que não merecia isso. O que talvez demonstre como nada do que eu possa dizer sobre minha obra tem real valor.
Lembre disso. Pesquisa não se termina, pesquisa se entrega.
@caparica eu investi todas as fichas na minha tese, e por elas brigo até hoje (embora, claro, investi fichas em outras coisas depois).
Mas essa idéia q vc apreenta talvez traga um contra-efeito que vc não pretendeu expor: é que por esse tipo de pensamento transformado em regra e não em advertência, de que uma tese "não vai ser" ponto alto, que os trabalhos são ritualizados, nivelados por baixo, equalizados, não são levados em geral a sério e mesmo quem o leva não recebe fiança.
O que vi depois do meu doutorado é exatamente o contráro: 10 anos depois, gente repetindo idéias da minha tese como se fossem delas, e ainda estando cientes - porque eu as adverti - que eram minhas, ainda levando o crédito no final.
Penso que o esforço levado às últimas consequências, o esmero, a dedicação, devam ser valorizados sempre, pois o que é mais valorizado hoje em dia é se a pessoa conhece tais e quais, se possui certa posição de autoridade, se dá ou recebe certos tapinhas nas costas etc..
Precisamos, urgente, valorizar de fato o rigor!
@askesis Para além disso, acho importante separar responsabilidades na formação de um pesquisador. O trabalho do pesquisador é pesquisar, cobrança de rigor e apontamento de onde ele esteja faltando são responsabilidades de orientador e banca. Por isso meu conselho é entregar o que você tem, mesmo que não te agrade, e deixar os responsáveis aplicarem rigor e dizerem se merece ou não ser publicado.
@askesis Finalmente, o que quero dizer com a tese não ser o ponto alto da carreira de nenhum pesquisador de carreira é que, por melhor e mais completa que ela seja, se ela seguir sendo o ponto alto de uma carreira acadêmica então essa carreira estagnou. Dei dois exemplos de teses que mudaram a compreensão de todo seu campo quando publicadas, Chomsky e Bakhtin, e mesmo elas foram o ponto de partida, e não de chegada, dos dois autores. Mas apostar tudo e dar o melhor de si é fundamental para qualquer iniciativa na vida, minha advertência é realmente pontual sobre se achar insuficiente e desistir por isso.
@caparica vero, amigo. Essa coisa da sindrome do impostor, me parece, ja era algo a ser problematizado na "nossa epoca", quanto mais hoje, que as pessoas dividem o mundo entre ser capaz demais, sem necessidade de aprendizagem, ou ser inegavelmente alguem fracassado, como se a vida não fosse aprendizagem e desafio e sim simples luz ou sombras incontornáveis. Coisas de rede social e Instagram
@askesis Concordo sem ressalvas.
@askesis Acho que estamos falando de dois pontos igualmente pertinentes, mas que não são exatamente o mesmo tópico. O que quis pontuar, e talvez tenha faltado explicitar, é a síndrome do impostor, a idéia de que, se você não está achando seu texto digno de publicar, é porque ele não é digno de publicar. E, para além disso, acho importante também pontuar que a academia em nenhum aspecto jamais irá retribuir nem 10% do esforço que precisa ser feito para se consolidar nela, é um meio onde convivi por 20 anos e, mesmo com um bem razoável sucesso no fim do trajeto, considero extremamente ingrato; e sair do Brasil melhora só um pouco a situação.