Conselho do tio pra quem tá começando na vida acadêmica: O Stephen King escreveu, e eu concordo, que nada que um autor possa dizer sobre a própria obra tem qualquer valor, e é por isso que não existem coletâneas dos 100 Maiores Prefácios da Literatura Ocidental.
Eu quase larguei o doutorado no último ano porque achava minha tese curta, superficial e fraca, e não conseguia fazer mais que aquilo. Só não desisti porque meu orientador me disse que tese não se termina, tese se entrega.
E a tese foi aprovada. E no ano seguinte ganhou o prêmio Unesp de melhores teses. E eu ainda acho que eles premiaram uma tese que não merecia isso. O que talvez demonstre como nada do que eu possa dizer sobre minha obra tem real valor.
Lembre disso. Pesquisa não se termina, pesquisa se entrega.
Outra dica que especialmente quem tá no doutorado precisa ouvir e guardar no coração: Sua pesquisa e tese não são o ponto alto da sua carreira acadêmica, o divisor de águas, o trabalho pelo qual você será lembrado e julgado. Longe disso. No mais das vezes, salvo as raras pessoas que escrevem uma dissertação de mestrado incomumente boa, sua tese vai ser só o primeiro passo da sua carreira, e quem ler o fará tendo em mente que era um texto dos seus primeiros anos de pesquisa. Não entra na nóia de que sua tese precisa ser o Syntactic Structures do Chomsky ou o Problemas da Poética de Dostoiévski do Bakhtin porque nesses termos ninguém conseguiria terminar uma pós.
@caparica eu investi todas as fichas na minha tese, e por elas brigo até hoje (embora, claro, investi fichas em outras coisas depois).
Mas essa idéia q vc apreenta talvez traga um contra-efeito que vc não pretendeu expor: é que por esse tipo de pensamento transformado em regra e não em advertência, de que uma tese "não vai ser" ponto alto, que os trabalhos são ritualizados, nivelados por baixo, equalizados, não são levados em geral a sério e mesmo quem o leva não recebe fiança.
O que vi depois do meu doutorado é exatamente o contráro: 10 anos depois, gente repetindo idéias da minha tese como se fossem delas, e ainda estando cientes - porque eu as adverti - que eram minhas, ainda levando o crédito no final.
Penso que o esforço levado às últimas consequências, o esmero, a dedicação, devam ser valorizados sempre, pois o que é mais valorizado hoje em dia é se a pessoa conhece tais e quais, se possui certa posição de autoridade, se dá ou recebe certos tapinhas nas costas etc..
Precisamos, urgente, valorizar de fato o rigor!
@caparica vero, amigo. Essa coisa da sindrome do impostor, me parece, ja era algo a ser problematizado na "nossa epoca", quanto mais hoje, que as pessoas dividem o mundo entre ser capaz demais, sem necessidade de aprendizagem, ou ser inegavelmente alguem fracassado, como se a vida não fosse aprendizagem e desafio e sim simples luz ou sombras incontornáveis. Coisas de rede social e Instagram
@askesis Concordo sem ressalvas.