“coliving” é a uberização do encortiçamento: uma forma de precarização do direito à moradia em que um intermediário ganha muito dinheiro com a miséria alheia
a diferença é que agora essa miséria chegou também à classe média que se acha a rica
o título dessa matéria é enganoso, já que só fala lateralmente de memória (além de ser equivocado: memória — sobretudo quando tratada assim, abstratamente — não se apaga desse jeito)
mas chama a atenção o papel exercido pela tal startup que trabalha com essa forma de encortiçamento gourmetizado que é o coliving — e que, em última instância, ajudará não só a expulsar populações de baixa renda como até mesmo moradores de classe média para bairros mais afastados
não devíamos falar em coliving, mas em locação social, habitação subsidiada, etc
por mim, organizavam-se grupos populares nos bairros para impedir à força a chegada dessas startups excludentes e autoritárias
agora, falando de fato sobre memória:
demolir um edifício não significa, a priori, que se está “apagando a memória”
esse tipo de metonímia (considerar a memória pelos seus suportes, vetores e referenciais materiais) é problemático pelas suas consequências
como diz o professor ulpiano em seu texto clássico sobre memória, é insuficiente limitar a discussão sobre memória a seus vetores materiais, embora eles sejam imprescindíveis
além disso, fala-se em memória de forma abstrata: é uma memória sem classe, sem gênero, sem raça, etc
Se fosse algo benéfico ter apego emocional ao endereço que uma vez habitamos, então nunca teríamos deixado de habitar em cavernas.
Muitas vezes para que o novo e melhorado apareça, aquilo que velho deve ser demolido sem apego.
Entretanto, devemos tomar cuidado com o desapego excessivos. Por que muitas pessoas maliciosas usam esse discurso de "desapego pró-evolução" como pretexto para aplicar privatizações estatais.
