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# A aula e a videoaula

Durante a pandemia eu gravei várias video-aulas para os alunos. Cada aula equivalia a um vídeo.

Os vídeos foram guardados e eu os disponibilizei como material complementar. Acho muito interessante quando os alunos os utilizam como tal: há em primeiro lugar a leitura dos textos, depois a aula, a monitoria, e por fim, também os vídeos.

Vídeo nunca foi método pedagógico, e sim material didático complementar. É para isso que um vídeo serve.

Disso, não é à toa que a educação anda tão fraca. A pandemia acelerou um tema horrível, de fundo mercadológico, que foi revestido como "método pedagógico": o mito de que videoaulas poderiam substituir aulas.

Mas quem experimenta os dois sabe da distância abissal entre um e outro.

Como seres humanos, somos capazes de aprender qualquer coisa de qualquer jeito. Um dos livros mais importantes do século XX, o *Tractatus* de Wittgenstein, foi escrito na lama e nas trincheiras da Primeira Guerra. Einstein compôs várias de suas equações como secretário numa repartição. O homem é assim, capaz de aprender com qualquer coisa.

Mas não é disso que trata a pedagogia. Ela serve para desenvolver métodos e meios ("mídias") para que alguém aprenda. E alguém sempre aprende mais e melhor quanto mais meios obtiver para isso. E o *meio* no qual a maior parte dos demais meios ocorrem é o meio da aula presencial, com o corpo presente, o diálogo, o cuspe e o giz (e o que mais vier).

Inclusive o termo "aula presencial" é errado. Ele faz pensar que existe a "aula presencial" e a "aula não-presencial". Só que o que não é presencial não é aula, e sim mídia, recurso. Assistir um vídeo não equivale a assistir uma aula, mesmo que o vídeo faça parte de uma estratégia pedagógica.

É nesse ponto que reside uma confusão delicada e com terríveis resultados. As pessoas, achando que recursos remotos são aula, estão abandonando as aulas.

Ledo engano.

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