Há um hype de estudantes universitários que se reúnem para fazer pregação religiosa na universidade. Estão vendendo isso como se a universidade proibisse os cultos, sob aquele preceio de que "o Evangelho deve ser propagado em qualquer lugar", quase como um gesto de libertação contra a "repressão" da universidade.
Eu enxergo nisso tudo um fenômeno mais profundo.
A universidade jamais proibiu nada. E como é um lugar de ciência, de discussão, de conhecimento, ela sempre permitiu a experimentação em diversos campos. Sendo lugar de todas as ciências, também jamais proibiu experimentações culturais e artísticas, muitas das quais já foram confundidas com vagabundagem e balbúrdia. Além disso, porque é a expressão mais alta da racionalidade ocidental, a universidade é há séculos lugar de contestação e crítica.
Nisso, ninguém jamais foi proibido de manter suas crenças anteriores dentro da universidade. A questão é que, fora da universidade, muitas crenças não são/eram apenas difundidas, mas são impostas. Que se veja a repressão dos traficantes e milicianos evangélicos a muitos cultos afro do RJ, por exemplo. A universidade seria ou deveria ser, nesse sentido, muito mais um lugar de interrogação sobre por que muitos cultos são recusados e outros impostos.
A universidade carrega consigo aquele velho tema de que a razão, em si mesma, não tem poder algum senão o de convencimento, e por isso a ciência e a democracia seriam as maneiras menos piores de se viver.
Mas nos anos 2000 há quem, faltando com a razão, muito oportunamente quer fazer valer seus interesses e exercer seus poderes invertendo os termos, dizendo que a universidade sim é que é repressora. E assim se torna possível destruir a universidade dentro dela mesma, com essas simulações de religião que, se fossem sinceras, estariam na igreja.