Numa terra distante, onde as estepes douradas da Rússia encontravam os rios sagrados da Índia, vivia um estudioso chamado Vasili.
Nascido numa linhagem de guardiões da sabedoria, Vasili passava seus dias imerso em textos antigos — alguns inscritos no delicado sânscrito das Upanixades, outros na tinta sombria das lamentações de Dostoievski. Ele buscava, acima de tudo, dominar o próprio tempo.
Um dia, um sábio errante chegou ao estudo de Vasili, carregando uma ampulheta peculiar. Diferente de qualquer outra que Vasili já vira, sua areia não escorria constantemente para baixo — ela pairava, suspensa, como se aguardasse permissão para cair. O sábio sorriu e colocou a ampulheta sobre a mesa do estudioso.
“Esta é a Ampulheta do Guardião do Tempo”, disse o sábio. “Vire-a, e você poderá vislumbrar seu passado ou seu futuro. Mas cuidado — você pode perder o que é mais precioso.”
Ansiosamente, Vasili virou o vidro.
Imediatamente ele se viu como um menino, aprendendo sânscrito sob o olhar severo de seu avô. As mãos do menino tremiam enquanto ele traçava versos sagrados, seu coração ansiando por um futuro em que seria sábio e reverenciado.
Fascinado, Vasili virou o vidro novamente. A areia se inverteu, e agora ele se viu como um velho — rico, respeitado, mas cheio de uma tristeza inexplicável. Ele estava sentado sozinho em uma grande sala, suas mãos repousando sobre livros não abertos, sua mente doendo pelas anos perdidos em estudos.
Vasili estendeu a mão para tocar seu eu futuro, mas no momento em que o fez, toda a visão se desfez. A ampulheta rachou, e a areia dentro dela se transformou em pó. O sábio, ainda sorrindo, falou mais uma vez.
“Você passou a vida correndo atrás do tempo, Vasili. Mas o passado é um sussurro, e o futuro é uma miragem. Apenas o presente é real. Se você não vive agora, você nunca viverá de verdade.”
Naquele momento, Vasili sentiu algo que nunca sentira antes — o peso do agora. O calor do sol em sua pele. O cheiro da tinta secando no pergaminho. A respiração em seus pulmões, nem de ontem nem de amanhã, mas apenas deste momento.
E pela primeira vez, ele não alcançou outro livro. Ele simplesmente sentou, ouvindo o mundo como ele era, e não como ele desejava que fosse.
@askesis gostei da estória.
Em resumo: Felicidade é o desfrutar do agora, sem apego ao passado, e nem expectativa no futuro. Aprendendo a gostar de si mesmo como é, sem esquecer de buscar progresso. Vivendo o agora como se fosse o ultimo dia de sua vida, mas sem deixar de ser prudente para o futuro.