Nesta semana ouvi alguns alunos dizendo, como fatalidade, que eles não prestam mais atenção em nada e que isso se dá via redes sociais. Ou seja, eles não gostam de ler e não fazem questão disso.

É trágico. É má-fé pura. Admite-se um estado de coisas que podem ser mudadas e certa má-fé, quase burrice auto-declarada E tudo revertido a um fenômeno dado, como se isso fosse positivo e inevitável.

Estava conversando com alunos que trabalham em áreas afins às questões de saúde, sobre como hoje em dia as pessoas aderem ingenuamente às gramáticas das redes sociais e isso também diz respeito ao tipo de clientes que eles encontram, com questões de saúde física e mental relativas a ansiedade, aparência, distorções de autoimagem, de relacionamento com os outros, de autoestima e aceitação, tudo devido às políticas de engajamento.

No que me responderam que a injunção ao engajamento é coisa que eles recebem como positivo até em outras matérias.

Ficou aquele ar de que eu estaria contradizendo outras pessoas, e mais ainda, remando contra a maré. Mas a questão é sempre mais profunda, e diz respeito às pessoas não serem simplesmente levadas como dejetos no curso da vida, mas terem a chance de tomar conhecimento, estudar, saber a respeito desse decurso, para terem a chance de mudá-lo.

Pois as , as de , não são uma fatalidade, e sim empreendimentos muito bem localizados e desenvolvendo certas estratégias, especialmente focadas no governo da conduta das pessoas.

Pessoas como , , , e tantos outros já o disseram.

Tomo o exemplo de Thoreau, durante a escravidão nos EUA: se um único proprietário de escravos liberta os seus, isso concorre para que os EUA inteiros sejam livres. Se um só de nós nos libertamos dessa injunção ao engajamento, isso concorre para que todos o sejam.

# Persistência das Fake News

Ontem falei que votaria no PT ou no PSOL e alguém prontamente me disse: *cuidado, pois o PSOL é quem administrava o Museu Nacional quando queimou*.

Achei super estranho e emendei: mas e não é a UFRJ quem administra o Museu Nacional? *Não, era o PSOL*.

Isso cheirava *Fake News* e não deu outra: na ocasião do incêndio, atribuíram o fato do reitor da UFRJ, Leher, ser do PSOL, e então misturaram tudo, passando a dizer que é o PSOL quem gerenciava o Museu.

É um festival de tolices, mas que cumpriu muito bem o papel de desviar o assunto e atingir resultados políticos duradouros:

Pois Leher, como reitor, nada tem a ver com o PSOL, e sim com a chapa que foi **eleita** pela UFRJ;

Pois o assunto serviu para desviar a atenção das responsabilidades do governo federal e da constante redução de investimentos públicos nas universidades;

Pois a notícia passa a fazer parte do ecossistema de ataque e desmoralização praticados pela ultradireita, dirigindo ao "inimigo da esquerda" toda sorte de ódio e desprezo.

Mas é mentira.

pragmatismopolitico.com.br/201

Volta e meia aparece um meme sobre um juiz cometendo barbaridades numa audiência virtual.

Na última, a juíza desrespeitou a advogada falando palavras de baixo calão em plena audiência. Mas lá pelas tantas, a juíza diz: odeio essas audiências virtuais, nelas todo mundo se acha juiz.

De algum modo talvez ela tenha tocado no essencial. Pois é uma aberração imaginar que poderia existir algo como uma audiência virtual, a ponto de irritar até o juiz. Para começar, todos os ritos são deslocados. A comunicação, os tempos, as possibilidades de fala são diferentes. Algumas audiências até cronometram o tempo permitido de fala.

Ninguém acha que um juiz antiético deixaria de sê-lo numa audiência presencial. Mas o fato é o de que essa invasão do virtual está prejudicando todo mundo que já tivesse antes uma posição fragilizada.

O está ampliando a política de generativa, e vai começar a treiná-las usando dados *pessoais* "públicos".

Mais uma rede social para cair fora.

# Post de britânica condenada por incitar violência e racismo não viola regras do X, diz plataforma

Quem está no reforça isso.

bbc.com/portuguese/articles/c8

# O procurador que foi Uber por 4 meses em Salvador: 'Não tive sensação de ser meu próprio chefe'

*"Não tive, em nenhuma ocasião, a sensação de ser meu próprio chefe", resume Fonseca, em referência a um termo muito usado pela Uber e por motoristas.*

bbc.com/portuguese/articles/cx

Conversei com algumas pessoas de redes bem extensas que buscaram o e o em alternativa ao e perguntei: por que não o ?

A resposta foi (literalmente): comportamento de manada. Eles não vem ao Mastodon porque entendem que a rede à qual todo mundo "naturalmente" vai **não é** a do Mastodon.

O Mastodon não é visto como alternativa, e se é, trata-se de uma alternativa excêntrica.

Isso revela algum tipo de visão que parece circular por aí. Visão falsa, mas produzindo resultados bem concretos.

Eis o desafio: desfazer essa visão.

# AI models collapse when trained on recursively generated data

Stable diffusion revolutionized image creation from descriptive text. -2 (ref. 1), -3(.5) (ref. 2) and -4 (ref. 3) demonstrated high performance across a variety of language tasks. introduced such language models to the public. It is now clear that generative artificial intelligence () such as large language models () is here to stay and will substantially change the ecosystem of online text and images. Here we consider what may happen to GPT-{n} once LLMs contribute much of the text found online. We find that indiscriminate use of model-generated content in training causes irreversible defects in the resulting models, in which tails of the original content distribution disappear. We refer to this effect as ‘model collapse’ and show that it can occur in LLMs as well as in variational autoencoders (VAEs) and Gaussian mixture models (GMMs). We build theoretical intuition behind the phenomenon and portray its ubiquity among all learned generative models. We demonstrate that it must be taken seriously if we are to sustain the benefits of training from large-scale data scraped from the web. Indeed, the value of data collected about genuine human interactions with systems will be increasingly valuable in the presence of LLM-generated content in data crawled from the Internet.

Shumailov, I., Shumaylov, Z., Zhao, Y. et al. AI models collapse when trained on recursively generated data. Nature 631, 755–759 (2024). doi.org/10.1038/s41586-024-075

# Elon Musk não reclamou de ordens de remoção fora do Brasil

*Patrícia Campos de Melo demonstra que, quando o governo é de ultradireita, não é contra a censura*

www1.folha.uol.com.br/poder/20

Apesar de o bilionário  se definir como um "absolutista da liberdade de expressão" e ter protestado contra o que definiu como "tanta censura" do ministro , do (Supremo Tribunal Federal), o empresário tem cumprido, sem reclamar, centenas de ordens de remoção de conteúdo vindas dos governos da Índia e da Turquia.

Nesta sexta-feira (30), Moraes determinou a derrubada do X (ex-Twitter) no Brasil. A medida ocorre após a empresa não ter indicado um representante legal no país em 24 horas, como definido pelo ministro.
Na Índia, o X removeu links para o documentário da BBC "Índia: A questão Modi" após determinação do governo do primeiro-ministro , no ano passado. O documentário retrata o papel de Modi em um massacre de quase mil muçulmanos no estado de Gujarat, em 2002.  governava o estado e é acusado de omissão.

"Vídeos compartilhando a propaganda hostil da BBC World e lixo anti-Índia, disfarçados de 'documentário' no YouTube, e tuítes compartilhando links para o documentário da BBC foram bloqueados sob as leis e regras soberanas da Índia", disse na época Kanchan Gupta, assessor do Ministério de Informação e Radiodifusão da Índia. Ele acrescentou que tanto o YouTube quanto o , já sob o comando de Musk, tinham cumprido a ordem.

Indagado três meses depois sobre as publicações removidas pelo , Musk afirmou que não poderia descumprir as leis do país —ao contrário do que prometeu fazer no Brasil sobre liberar contas bloqueadas pelo Supremo.

"As regras na Índia sobre o que pode aparecer nas redes sociais são muito estritas e nós não podemos violar as leis do país", disse, em entrevista em abril de 2023.

A Índia tem visto uma crescente erosão na liberdade de expressão sob o governo do primeiro-ministro Modi, da direita fundamentalista hindu.

O X tem removido sistematicamente publicações contrárias ao governo e banido contas de jornalistas críticos na Índia. Em outubro, por exemplo, bloqueou as contas de dois grupos de defesa de direitos humanos com sede nos EUA —o Hindus for Human Rights (Hindus pelos Direitos Humanos) e o Indian American Muslim Council (Conselho Muçulmano Indo-Americano), críticos a Modi.

Não há números exatos, pois a empresa deixou de publicar relatórios sobre contas suspensas por decisão judicial desde que foi comprada por Elon Musk em 2022.
Como mostrou a Folha, de 2012 a 2022, o Twitter publicou dados semestrais detalhados por país sobre pedidos de informação por parte de governo e exigências legais para remover ou reter conteúdo. O relatório mais recente foi divulgado em 28 de julho de 2022, com dados do segundo semestre do ano anterior.

O bilionário tampouco protestou contra pedidos de remoção na Turquia, outro país com governo autocrático de direita. Lá, o X restringiu o alcance de centenas de tuítes por ordem do governo de Recep Tayyip nas vésperas da eleição presidencial de 2023.

Em resposta às críticas de um jornalista sobre a restrição de alcance das publicações, Musk disse, pelo X: "A escolha é estrangularem completamente o Twitter ou limitar acesso a alguns tuítes. O que você prefere?"

Além disso, Musk processou a organização Center for Countering Digital Hate (CCDH, centro para combate ao ódio digital) por um estudo que apontava alta no faturamento com anúncios ligados a discurso de ódio após a compra da plataforma pelo empresário.

No fim de março, um juiz da Califórnia arquivou a ação, afirmando se tratar de uma tentativa de Musk de silenciar seus críticos. "Essa ação é uma tentativa de punir os réus por causa de seu discurso", disse o juiz Charles Breyer.

À Folha o presidente do CCDH, Imran Ahmed, afirmou: "Elon Musk se vende como um herói da liberdade de expressão, mas ele moveu uma ação para silenciar minha organização quando fizemos uma pesquisa sobre discurso de ódio na plataforma e determinamos que esse tipo de conteúdo explodiu após ele assumir o X".

Segundo Khan, Musk "é um hipócrita e um valentão, e não o paladino defensor da Constituição que ele diz ser".

Uma reportagem do site Rest of the World mostrou que, entre 27 de outubro de 2022 e 26 de abril de 2023, o X recebeu 971 pedidos de governos e sistemas judiciais para remover conteúdo, contas ou fornecer informações privadas de perfis. O X cumpriu 808 deles –uma taxa de mais de 80%. Antes disso, a taxa de cumprimento de ordens de governos pelo X estava em cerca de 50%, segundo a Rest of The World,

Procurada, a assessoria de imprensa do X não respondeu.

Moraes determinou em abril a inclusão de Musk como investigado no inquérito que apura a existência de milícias digitais antidemocráticas e seu financiamento.
O empresário havia dito que o magistrado deveria renunciar ou sofrer impeachment. Antes, um perfil oficial da plataforma havia declarado que bloqueou "determinadas contas populares no Brasil", e Musk retuitou mensagem em que disse que estamos revendo "todas as restrições" e que "princípios importam mais que o lucro".

Posteriormente, o empresário disse que Moraes se tornou o "ditador do Brasil" e deveria ser julgado por seus crimes.

# A Caixa de Pandora do neofascismo: por que as redes sociais privilegiam a extrema direita?

Cristian Arão

Há algum tempo, a relação entre algoritmos e o enfraquecimento da democracia vem sendo estudada em diversos países. Essas pesquisas revelam que o espaço virtual tende a favorecer conteúdos da extrema direita.

anpof.org.br/comunicacoes/colu

# Mastodon nas universidades

[Esse texto](netzpolitik.org/2023/a-call-to) é muito importante, pois pergunta o seguinte: se as universidades fornecem emails para seus alunos e profissionais terem um login e se comunicarem em rede - promovendo ainda sua identidade e o pertencimento às universidades - por que não fornecer também uma conta do ou do ?

Afinal, são plataformas que não exigem muitos recursos, apesar de terem possibilidades incríveis de interação.

Há, inclusive, universidades e instituições de pesquisa que já fazem isso! O post acima cita a [Helmholtz Association](blogs.helmholtz.de/augenspiege) e o [MIT](mastodon.mit.edu/about), dentre outras iniciativas.

Mais sobre o [mastodon e o fediverso](askesis.hypotheses.org/3571).

O crescimento da direita radical tem como um de seus principais condicionantes os algoritmos de engajamento das redes sociais. Ambos funcionam homologamente. Isso já está mais do que provado. O que precisa ser feito é encontrar meios de responsabilizar as redes sociaispor isso.

E se é difícil demonstrar que elas "causam" tais coisas em sentido estritamente determinista, não é difícil provar que há inúmeros vínculos funcionais.

Saí do e fui para o quando o tomou conta da coisa.

Ainda me segurava no , pois as opçoes por lá são fabulosas, há muita possibilidade de edição de video, stories e utilização de músicas com "licença". Mesmo assim, comecei a usar também o pixelfed (em @sacreddrift ).

Mas a notícia de que a está usando para aprender com dados pessoais está sendo uma pá de cal. Desmobilizou tudo, o restinho de energia direcionada (há tempos, de malgrado).

O que farei? Investirei mais no e voltarei com mais força aos , talvez até ao estático com .

Nesses tempos, é um imperativo ético sair dessas redes de , mas não só: é preciso tirar os outros de lá.

Meta vai começar a treinar suas IAs com base em NOSSOS dados pessoais, exceto na União Europeia.

theregister.com/2024/06/10/met

# O perigo das IAs para a democracia

Áudios falsos imitando vozes de políticos, chamadas robóticas geradas por IA ou âncoras de TV fictícios: a inteligência artificial oferece, em grande magnitude, novas maneiras de espalhar desinformação. Em uma era de crises globais, isso representa uma ameaça genuína à democracia.

goethe.de/prj/hum/pt/deu/25376

Sobre as e derivados ( , etc.), esse artigo, publicado há 11 anos, deveria ser um clássico:

Neuroscience, Ethics, and National Security: The State of the Art (Michael N. Tennison and Jonathan D. Moreno)

National security organizations in the United States, including the armed services and the intelligence community, have developed a close relationship with the scientific establishment.

journals.plos.org/plosbiology/

Show older
Qoto Mastodon

QOTO: Question Others to Teach Ourselves
An inclusive, Academic Freedom, instance
All cultures welcome.
Hate speech and harassment strictly forbidden.