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Escrevi isso em 2022, sobre a pandemia de 2020:

> Em 2020, quando começou a pandemia, ouvi o dito de que era preciso não levar o rompante das pessoas tão a sério, pois as coisas não estão normais e, mais ainda, as pessoas sequer se comunicavam por meios corriqueiros.
> Comecei a perceber isso pelo Wzap, pelos mails e pelo Google Meet: eram fábricas de mal entendidos.
> Mas parece que, 2 anos depois, as pessoas naturalizaram isso. Elas tomam aquele zapzap ou mail atravessado e aquele avatar movente e comentário com um lag na conexão como se tivessem o mesmo estatuto da fala e da presença em carne e osso. E mais ainda: tiram conclusões sobre as relações reais com o outro por meio disso.
> Essa confusão entre o meio e o emissor deve ser um assunto e tanto, por exemplo, para quem faz psicoterapia online (tema que há 10 anos era considerado impossível, inclusive por colocar questões como essas).

Uma consequência muito séria disso que tenho visto é que os adolescentes não estão conseguindo notar a diferença entre certo desempenho que eles realizam num momento e o que eles são. É como se todo mundo fosse inteiro, aqui e agora, e não tivéssemos momentos de força e fraqueza, ou de aprendizado por ex. Aí ttudo precisa ser resplandecente, todo mundo tem que ser o mais bonito e o melhor, sem frustrações.

Só que somos finitos, temos defeitos, aprendemos, e no fundo estamos forjando uma sociedade de derrotados e frustrados, pois todo mundo percebe em algum momento que não se iguala a um avatar.

E o que as pessoas fazem então? Reforçam o sistema de aparências. Até os exageros depressivos e as ameaças de suicídio fazem parte disso.

"N'ayez jamais peur de la vie, n'ayez jamais peur de l'aventure, faites confiance au hasard, à la chance, à la destinée.

Partez, allez conquérir d'autres espaces, d'autres espérances. Le reste vous sera donné de surcroît."

✒️ Henri de Monfreid, Les secrets de la mer rouge

Tomando café e estudando. Na mesa ao lado, uma política que será candidata fala sobre a festa de lançamento de campanha: haverá gogo-boys, as mulheres vão pirar.

Ah, a política brasileira!

PS: adivinhem só quem esse grupo apoia

Simbólico demais de nossa época: o cara não articula uma frase correta e vende um livro feito no sobre como gerar best sellers.

Saí do Xeeter faz tempo e fico ainda mais feliz de ter saído uando vejo a coprolalia do Elon Mosca.

Só pensando aqui sobre como é que aquilo ainda para em pé.

Procurar coisas sobre Foucault no Youtube é sempre algo meio estranho. Valeria lembrar que nos anos 1980, quando começavam a se multiplicar as câmeras de vigilância, sempre havia alguém pronto a falar sobre o argumento do panopticismo e da sociedade de vigilância generalizada, sob os argumentos de Vigiar e Punir.

Hoje há quem abra canal do Youtube para falar sobre Foucault e divulgar sua "obra". Mas há também quem não abra canais e apareça por ali a convite ou sob algum registro de evento. Cada um ocupando um pequenino papel em políticas de segmentação e publicidade.

Gift em inglês é dádiva, em alemão é veneno

Dados fresquinhos sobre a educação mostram o que você já sabe: as universidades públicas são as melhores, as privadas com fins lucrativos as piores de lavada e EAD significa esmagadoramente uma enganação.

Numa universidade, às vezes é muito clara a contradição entre tanta burocracia e a necessidade de cumprir a finalidade do trabalho, que deveria ser ligada à pesquisa, extensão e ensino.

Mas há quem não veja problema e sacrifique tudo pela burocracia. Isso torna tudo fácil, cômodo e rende a ilusão de que o resto seja cumprido.

Reclamando aqui da vida e eu nem conhecia Heliodoro e suas Etiópicas. elfinspell.com/HeliodorusMyInt

Marcio LM boosted

I swear, I think what OpenAI did was they purposefully sought out the most narcissistic, amoral developers on the entire planet to form the company.

Because that's literally the only way you'd end up creating something like this without nobody asking “How does this have a legitimate use that is not scamming people?”

nytimes.com/2024/03/29/technol

Marcio LM boosted

Eu só queria que o Brasil não esquecesse o que foi esse período de 1964 a 1985. Que não foi "ruim só para quem levantava a voz contra o regime militar", como eu ouvi de algumas pessoas quando era criança - uma narrativa que minha família fez o favor de derrubar.

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Vir a uma padaria no RJ é uma verdadeira experiência antropológica. A má vontade é tanta que não deixam vc saber se precisa buscar algo ou se levarão à mesa. Ninguém dá licença para ninguém. Você vai 3 vezes pedir se o pão na chapa ficará pronto. Lá pelas tantas vem alguém perguntar: é pão na chapa? Depois que chega, é necessário verificar se não foi "batizado".

E os clientes ao lado, que não dão licença para ninguém, ligam tutorial para aprender inglês básico, pois afinal eles sonham com outras terras. E não usam fone de ouvido.

Bruno Latour, old but gold

P. Diante disso, pode haver uma ideia compartilhada da verdade?
R. As pessoas se queixam das fake news e da pós-verdade, mas isso não significa que sejamos menos capazes de raciocinar. Para conseguir manter um respeito pelos meios de comunicação, a ciência, as instituições, a autoridade, deve haver um mundo compartilhado. É um tema que estudei no passado. Para que os fatos científicos sejam aceitos, é preciso um mundo de instituições respeitadas. Por exemplo, sobre as vacinas se diz: “Estas pessoas ficaram loucas, estão contra as vacinas.” Mas não é um problema cognitivo, de informação. Os que são contra não serão convencidos com um novo artigo na revista The Lancet. Essas pessoas dizem: “É este mundo contra este outro mundo, e tudo o que se diz no mundo de vocês é falso.”
P. Os fatos não existem independentemente desses mundos?
R. É preciso sustentar os fatos, não vivem sozinhos. Um fato é só um cordeiro frente aos lobos.
P. Quem são os lobos?
R. Os que devoram os fatos. Um fato deve estar instalado numa paisagem, sustentado pelos costumes de pensamento. São necessários instrumentos e instituições. As vacinas são o exemplo de um fato que precisa de uma vida pública. Se eu sair pela rua com uma seringa tentando vacinar as pessoas, serei considerado um criminoso. Se a vida pública é deteriorada por pessoas que consideram que – não importa o que você disser – este não é o mundo delas, os fatos não servem para nada.
P. Mas nesse caso há um fato: as vacinas são úteis, não importa se os outros acreditam ou não.
R. No meu mundo e no dos leitores do EL PAÍS, sim. Mas nem todo mundo lê o seu jornal, nem tem um doutorado, nem confia nas instituições médicas, nem vive num país onde o Ministério da Saúde apoia as vacinas. É preciso muita coisa para sustentar os fatos.

P. Os dois mundos valem o mesmo?
R. Não, mas estão em guerra. É um problema geopolítico. Antes, eram problemas de valores ou ideologia, mas num tabuleiro estável. Agora, não. O mapa está em discussão. “Na América não há problema climático, isso é falso”, diz Trump.
P. Qual é a solução?
R. Se aterrissarmos no terrestre, poderíamos começar a definir um mundo comum. Então já não poderíamos nos permitir dizer que não há mudança climática, que os problemas de saúde não nos dizem respeito, que a reprodução das abelhas não é nosso problema. Voltaríamos a discutir entre civilizados.

brasil.elpais.com/brasil/2019/

Essa coisa do influencer tem uma história interessante e vem lá dos blogs.

Nos anos 2000 abriu-se uma janela de várias possibilidades. Uma delas era tornar visível muita gente genial, mas sem oportunidade pelos meios convencionais.

Com o passar do tempo começaram a perceber que o essencial da coisa não era dar oportunidade a pessoas importantes, e sim manipular essa possibilidade de tornar alguém visível. E mais ainda, segmentar e monetizar isso.

Hoje as celebridades são aquelas de sempre, as mesmas de antes da internet, ligadas a tretas e bizarrices.

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