Ontem houve prova do ENEM, e houve também um daqueles episódios de "show do milhão" com o Luciano Huck.
Na peneira para quem iria à bancada, havia 6 brasileiros e lhes foi feita a pergunta: do sul ao norte, qual é a ordem entre as capitais: São Paulo, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre?
Dentre os 6 candidatos, apenas 3 acertaram a resposta.
Difícil visitar as redes sociais e não ver algum tipo de generalização ad absurdum do princípio do "estágio do espelho" de Jacques Lacan.
É como se aquilo que Lacan descrevesse como estágio constitutivo da subjetividade (e operante em nossas relações) recebesse, pelas redes sociais, uma espécie de cuidado de gestão, de instrumentalização, de monetização.
E os resultados disso são terríveis.
Lacan já demonstrava como nós tentamos sempre nos sustentar a partir da sustentação de certas imagens, e é uma espécie de aprendizado ou tarefa haver certa elaboração na qual aprendamos sobre nossa finitude, e sobre o fato de que nenhum jogo de imagens é suficientemente duradouro sem causar sofrimento (via de regra, patológico).
Lacan demonstrava também que a contrapartida da inadequação de uma imagem - inadequação sempre inevitável em algum momento - é sempre a agressividade.
Esse movimento de erigir uma imagem, de constatar a inadequação, de instaurar um jogo agressivo e de repetir o jogo das imagens é contínuo em nossa vida, e é precisamente isso que as redes sociais também fazem.
Só que elas o fazem de um modo inverso ao que ensinava Lacan: trata-se sempre, nas redes sociais, de sustentar a imagem, de não a quebrar jamais, não importando o preço, pois nossa cultura está nos ensinando que as imagens seriam plenamente manipuláveis por alguém, e o preço da quebra de uma imagem é a ruína, o fracasso, o aniquilamento de uma subjetividade.
E assim as pessoas parecem repetir exatamente a figura d'O Retrato de Dorian Gray. Ou melhor: é uma cultura inteira gerindo a si própria segundo a figura de Dorian Gray.
Não é à toa que se fale tanto em infelicidade e proliferem tantas narrativas sobre o fim do mundo.
Uma bola que jamais parou de quicar é a vinculação direta de Paulo Guedes com a educação superior privada, pois Guedes é um dos principais investidores de alguns dos principais fundos de ensino privado do país.
Além disso, a irmã de Guedes, Rosangela, é uma das principais representantes da área.
Bolsonaro chegou a ter ministro da educação também ligado diretamente aos mesmos interesses.
É conflito de interesse puro. E jamais mexido.
Antarctica’s Floral Awakening: How Climate Change is Transforming the Continent’s Ecosystem
Poente sobre um mar de nuvens, Sunset over a sea of clouds
#photography #photographersonpixelfed #photographersonmastodon #askesisphoto #composition #landscape #silentsunday
Hoje o Uber veio com aquele papo de que estamos vivendo os fins dos tempos, tema cevado bastante nas igrejas evangélicas após os últimos acontecimentos em Israel.
Só que esse tema não serve só para que os crentes não enxerguem o que se passa apenas em Gaza, mas também aqui.
O tema de que vivemos o fim dos tempos - mais um daqueles que logo eles irão esquecer - é muito semelhante àquele da pessoa que vive reclamando do PT mas, quando vê que seu candidato deu errado, sempre tem pronto um "mas a política não presta mesmo"
É uma espécie de fala ao mesmo tempo fatalista e comiseradora. Ela é uma espécie de auto-abandono e tentativa de não se fazer ver como player da História. É o famoso "caguei", só que dito para o outro não entender que a pessoa está cagando no sentido mais universal possível do termo.
Dentre outras, diz Marx:
> A nós, comunistas, já acusaram de querer suprimir a propriedade adquirida individualmente pela via do trabalho, aquela propriedade que consistiria a base de toda liberdade, de toda atividade e de toda autonomia pessoal.
> Propriedade conquistada, adquirida, resultante de merecimento pessoal! Falam os senhores daquela propriedade do pequeno-burguês ou do pequeno camponês a qual precedeu a propriedade burguesa? Essa não precisamos surpimir, porque o desenvolvimento da indústria já a suprimiu e segue fazendo-o dia após dia.
> Ou falam os senhores da moderna propriedade privada burguesa? O trabalho assalariado, o trabalho do proletário, porventura lhe cria propriedade? De jeito nenhum. O que ele cria é o capital - isto é, a propriedade de que o explora e que só pode multiplicar-se à medida que gera mais trabalho assalariado que possa, de novo, explorar. A propriedade, em sua configuração atual, se move pela oposição entre capital e trabalho assalariado.
(*Manifesto do Partido Comunista*, "Comunistas e Proletários")
Freud contra o sionismo
https://jacobin.com.br/2023/10/freud-contra-o-sionismo/
Quase 100% dos meus alunos não sabem o que é Mastodon ou Fediverso. Mas sabem muito bem o que é Tiktok, Twitter e quetais.
Já temos entre nós pessoas que não usam redes sociais, mas que são formadas, constituídas, construídas, a partir do uso das plataformas das redes sociais.
São modos de pensar, de ser, de se comportar, inteiramente moldados por empresas privadas.
Entrevista com Ilan Pappé sobre a limpeza étnica da Palestina
Uma das bizarrices que foram cevadas pela ultradireita e certo pensamento liberal no Brasil é aquela que junta teologia da prosperidade com imagens de uma Israel branca, rica e merecendo uma herança originária, uma reparação histórica de fatos que ocorreram há 2000 anos.
No ecossistema da ultradireita eles conseguiram fazer com que cristãos brasileiros, predominantemente evangélicos (mas muitos católicos), acreditassem que ocorre agora em Israel alguma coisa com certa qualidade bíblica, e não política.
Interesses: História da #Filosofia, História das #CiênciasHumanas, História da #Psicologia, Michel #Foucault. Também por #arte, #natureza e #fotografia.
Posto: o que vejo diante dos olhos, nessa curta vida. Compartilho links e coisas que me interessam, interajo, guardo informações, cito trechos, conjecturo, separo coisas para ler...
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